O protagonismo das grandes corporações na divulgação de falsas soluções para o sistema industrial de alimentos, sua participação na definição da agenda ambiental e os impactos na segurança alimentar estarão no centro das discussões do encontro “Os nexos entre a Cúpula dos Sistemas Alimentares e as Conferências de Biodiversidade e Mudanças Climáticas da ONU”, promovido pela Conferência Popular por Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional e pela FASE, no próximo dia 17. O evento vai abordar temas como governança, multilateralismo e participação social.
“Hoje, a gente vive múltiplas crises e a questão da soberania e segurança alimentar e da soberania e segurança hídrica está relacionada intimamente a esses ambientes de governança global. Então, temas como o acesso aos recursos naturais, a permanência nos territórios, os direitos dos povos originários e comunidades tradicionais e a garantia dos direitos dos camponeses têm sido impactados pela captura corporativa e pelas políticas de diferentes governos e organismos internacionais que não asseguram os direitos dessas populações e dos recursos naturais”, explica André Luzzi, da comissão organizadora da Conferência Popular.
O tema está em evidência na Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, realizada no Egito, com o Pavilhão de Sistemas Alimentares. Segundo Maureen Santos, coordenadora do grupo nacional de aconselhamento da FASE que participa da COP 27, a proposta de trabalhar as três agendas de forma conjunta no webinar promovido pela Conferência Popular e pela FASE busca um olhar mais amplo sobre o atual cenário. “As corporações vêm avançando na agenda ambiental de uma forma muito forte e se transformando de vilão a mocinho, no mocinho da solução e da tecnologia, que vai ajudar no enfrentamento da crise e, com isso, cada vez mais, param de falar sobre eles como os vetores e os geradores da destruição”.
Entre essas soluções, por exemplo, está o plantio direto, técnica de semeadura no solo não arado, que impede a liberação de gás carbônico. Mas, embora aparentemente uma boa solução, essa medida, assim como outras, visa potencializar os lucros das grandes corporações e pode contribuir ainda mais para a crise climática. “Para não revolver o solo e plantar na escala necessária no agronegócio, seria necessário usar glifosato para secar as plantas, mas o glifosato é altamente poluente e também responsável por emissões. Então, na realidade, é uma técnica elegível como climaticamente inteligente, mas está contaminando mais o meio ambiente e a saúde humana”, explica a advogada socioambiental Larissa Packer, que vai participar do evento.
No encontro, Larissa vai trazer o contexto atual da captura corporativa, concentração de poder econômico e político por corporações e setores financeiros na definição de políticas públicas dentro dos países. “Com a crise da pandemia, a crise climática e a guerra na Ucrânia, vemos cada vez mais populações no mundo entrando para o Mapa da Pobreza. Por outro lado, vemos que as corporações alimentares como, por exemplo, as empresas de fertilizantes ou de sementes e agrotóxicos tiveram mais lucros nos seis primeiros meses de 2022 do que em todo o ano de 2021. No ano que marca uma crise financeira, econômica, climática e alimentar, vemos essas empresas surfando na onda da crise, ganhando cada vez mais lucros”.
As principais reflexões do encontro estarão em um documento síntese que será elaborado depois do evento. Para André Luzzi, a discussão também pode ajudar o governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva na política internacional. “É um exercício de apresentarmos caminhos para o novo governo consolidar uma política externa com foco na cooperação solidária, na autonomia dos povos, na garantia da soberania alimentar dos diferentes povos”.
As falsas soluções para o sistema industrial de alimentos
Para Maria Emília Pacheco Lisboa, assessora da FASE e integrante do Fórum Brasileiro de Soberania Alimentar e Nutricional da Conferência Popular de SSAN, as políticas que tratam dos direitos dos povos devem estar no centro das discussões. “As falsas soluções em debate nas Conferências internacionais que mercantilizam a natureza não levam à proteção dos povos que protegem e conservam nossa biodiversidade e nossas culturas alimentares”.
O webinar “Os nexos entre a Cúpula dos Sistemas Alimentares e as Conferências de Biodiversidade e Mudanças Climáticas da ONU” terá transmissão pelo YouTube e Facebook da Conferência Popular (https://www.youtube.com/watch?v=V0g1vXV4zQc), a partir das 18h.